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FILÍPICAS: DIÁRIO DAS LUTAS DE CLASSES ANO 2, Nº2 - A “DINÂMICA DO APOSTADOR” E A “SÍNDROME DE CASSANDRA”

 

A “Dinâmica do Apostador” e a “Síndrome de Cassandra” 

Como a “Dinâmica do Apostador” e a “Síndrome de Cassandra” estão relacionadas à Crise Política entre o Governo e o Congresso

 


Em nossa última publicação, buscamos descrever a dinâmica que envolve a novela “Entre Tapas e Subornos”, referente à conturbada relação entre o Congresso Nacional e o Governo Federal. Claro que entre os motivos que nos saltam aos olhos está inevitavelmente as eleições de 2026. Mas calma, não vamos aqui cansar a sua paciência fazendo serviço de esoterismo político para buscar prever o cenário ou, pior, os resultados das eleições que serão realizadas no ano que vem. Deixemos esses exercícios de quiromancia política para o jornalismo político que, nesta época do ano, sempre se vê acometido do que gosto de chamar de “síndrome de Cassandra”, ou seja, a busca em tentar prever qual o cenário e quais serão os atores do próximo pleito eleitoral.

O que gostaria de discutir aqui é o porquê de a política eleitoral de nossos dias ter aderido ao que eu chamo de “dinâmica do apostador”, ou seja, numa disputa que beira as casas de apostas e como esta se relaciona à crise política que presenciamos. Todos nós sabemos que as eleições se tornaram num imenso balcão de apostas, mas quem, na verdade, são os apostadores e qual mecanismo que aciona a roleta?

Isso é o que buscaremos tentar entender nas próximas páginas.


1. O Balcão de apostas

 


Como saber exatamente o volume de investimentos... ou melhor de “doações” recebidas pelos candidatos durante as eleições? Bem, não há um valor consolidado divulgado como "custo total da eleição", mas é possível estimar uma perspectiva a partir dos gastos declarados pelos candidatos e partidos. Para fins de ilustração, vamos tomar como referência os números das eleições presidenciais de 2014, 2018 e 2022.

Em 2014 a farra dos gastos atingiu o auge da promiscuidade entre o alto empresariado brasileiro e os candidatos. A campanha da então presidenta Dilma Rousseff (PT) declarou um total de R$ 350,5 milhões em despesas, enquanto Aécio Neves (PSDB) declarou R$ 200,9 milhões. Os efeitos sociopolíticos foram tão constrangedores, que houve um esforço das instituições para a mudança na legislação eleitoral, quanto ao financiamento de campanha.

Já em 2018 passou a valer a proibição das doações empresariais e as campanhas eleitorais passaram a depender mais de recursos públicos como o Fundo Partidário e o recém-criado Fundo Eleitoral, além das doações de pessoas físicas. Foi estabelecido um teto de R$ 70 milhões em despesas de campanha para o primeiro turno, e R$ 35 milhões em caso de segundo turno.  

No entanto, o capital não demorou em encontrar brechas, lícitas e ilícitas, que viabilizassem sua influência na condução das campanhas eleitorais. Um dos expedientes mais comuns foi o de pressionar ou cooptar seus funcionários, sócios ou até mesmo terceiros para “doações” em seus nomes, embora com recursos vindos das próprias empresas. Mesmo que a lei exija a identificação do CPF do doador, não é tão fácil rastrear a origem real do dinheiro doado.

Além disso, sócios e altos executivos de empresas podem realizar doações dentro do limite legal (10% dos rendimentos brutos do ano anterior) a partir de seus patrimônios pessoais. Essas doações representam uma forma de influência empresarial, especialmente quando há entre o “doador(a)” e os candidatos, um histórico de favorecimento em contrapartida.

Outra prática camuflada é o das empresas “oferecerem” serviços como publicidade, consultoria jurídica, logística, uso de infraestrutura, etc. ou bens para a campanha eleitoral com valores abaixo do preço de mercado, ou até mesmo sem custo, bem como o patrocínio de eventos, seminários, ou atividades que, embora não sejam oficialmente parte da campanha eleitoral, sirvam para promover a imagem da candidatura ou do partido. Contudo, o maior expediente não-oficial é também um expediente não-legal: a formação de caixa dois, onde recursos financeiros são entregues aos candidatos ou partidos sem qualquer registro oficial.

Quanto a este último aspecto, as duas últimas campanhas do candidato da ultradireita, Jair Messias Bolsonaro, demonstram de forma exemplar como funcionam os mecanismos de caixa dois para financiamento de campanhas. Em outubro de 2018, o jornal A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem denunciando o pagamento de caixa dois para empresas que faziam disparos em massa de mensagens de WhatsApp favoráveis ao então candidato do PL. Estima-se que esses valores poderiam ter chegado a cifra dos milhões de reais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) junto com Ministério Público Eleitoral (MPE) e a Polícia Federal abriram investigação para apurar as denúncias que iam desde uso de caixa dois, até a contratação irregular de empresas de marketing digital e uso de robôs para disseminar notícias falsas (o chamado “gabinete do ódio”). Moral da história: em 2021, o TSE, embora em votação apertada, arquivou as ações alegando que as provas apresentadas não eram robustas o suficiente (fala sério!).

Não vamos aqui mencionar o que foi 2022, onde, mesmo se nos mantivéssemos apenas nos pontos principais, ainda assim, demoraríamos uma boa quantidade de páginas. A loucura daquele pleito por parte da ultradireita envolveu desde o uso da máquina do Estado, o suborno do Legislativo com a formação do orçamento secreto para emendas parlamentares, até as notícias de ameaças das milícias do Rio de Janeiro para direcionar o voto popular no candidato da ultradireita. Tudo isso é de conhecimento público e ainda está presente na memória recente da sociedade brasileira. Em suma, o balcão de apostas, ainda que tenha mudado as regras do jogo, não consegue – nem quer – disfarçar o mecanismo sociopolítico onde o capital influencia diretamente no direcionamento das eleições, incide no programa político dos partidos e, principalmente, na execução dos mandatos no período pós-eleitoral.

Agora que conhecemos as mesas de apostas, vejamos quem são os seus apostadores.

2. Os Apostadores


Mantendo o nosso olhar para o período entre as eleições presidenciais de 2014 à 2022, pode-se observar claramente a presença dos apostadores mais frequentes, ainda com as mudanças na legislação eleitoral. Em 2014, o grupo JBS dono de marcas como Friboi, Swift e Bertin, destinou cerca R$ 113 milhões em campanhas eleitorais, sendo o Partido dos Trabalhadores o seu principal beneficiário. Ao lado da JBS a Ambev aparece com R$ 41,5 milhões. Contudo, são as empresas do setor de construção que mais atuaram como financiadoras de campanhas eleitorais, muitas vezes através de doações ilegais, como revelado pela Operação Lava Jato. A Odebrecht, por exemplo, admitiu ter repassado R$ 37 milhões em "caixa 2" para campanhas presidenciais em 2014 para partidos como o PT, PSDB e PSC. Sim, isso mesmo, o capital não tem fidelidade partidária, ele prefere diversificar seus investimentos, sabendo que, mais tarde, irá cobrar a fatura independente do cavalo vencedor.  

Essa “dinâmica do apostador” não só interfere diretamente no resultado das eleições, mas mesmo na sua estrutura, sua forma. A disputa eleitoral em dois turnos, por exemplo, é para os setores do capital muito mais interessante, uma vez que os candidatos se tornam mais dependentes do financiamento privado e estariam mais dispostos a se comprometerem em contrapartidas.

Como vimos, nas eleições presidenciais de 2018 passam a valer as novas regras para financiamento de campanha, proibindo-se as doações empresariais. No entanto, é possível observar a presença de alguns doadores “generosos” que, “coincidentemente”, estão entre altos cargos executivos ou mesmo nomes empresários. Em 2022, por exemplo o sr. Rubens Ometto (da Cosan) destinou nada menos que R$ 8,9 milhões para diretórios e candidatos de 13 partidos (Confira no link: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/eleicao-em-numeros/noticia/2022/10/28/maior-doador-da-eleicao-ajuda-a-eleger-9-candidatos-e-a-levar-2-para-o-2o-turno.ghtml.)

Mas não é apenas no financiamento direto que se pode perceber a incidência do grande capital nas disputas eleitorais.

3. O Jornalismo Político Corporativo e a “Síndrome de Cassandra”


Bom e aqui chegamos à um dos meus fenômenos pré-eleitorais favoritos: a “síndrome de Cassandra” do jornalismo político da mídia corporativa. O quê, você não sabe ainda patavina do que estou falando quando me refiro à “síndrome de Cassandra”? Sem problemas, vamos explicar pra você desde o começo.

Na mitologia grega Cassandra era a princesa troiana filha do rei Príamo e da rainha Hécuba. Quando jovem, Cassandra foi cortejada por ninguém menos que o deus Apolo que, ao ser rejeitado pela princesa, amaldiçoou-a. A princesa teria o dom da profecia, no entanto, estaria condenada a ninguém acreditar em suas previsões. Essa maldição iria comprometer todo o seu futuro, de sua família e de sua cidade. Quando sua mãe estava grávida do seu irmão Alexandre (também conhecido como Páris) Cassandra previu que a criança seria o responsável pela destruição de Troia. Temendo o vaticínio, mas também incapazes de sacrificar o filho recém-nascido, os dois reis abandonam a criança aos pés do monte Ida, onde seria encontrada e criada por pastores. Depois de se tornar adulto, Páris é reconhecido como o príncipe perdido e reintegrado a família real, confirmando mais tarde o que tinha sido o sonho de Cassandra através da Guerra de Troia.

Voltando...

O fato é que, se Cassandra rejeitou seu dom como uma maldição, a grande mídia corporativa, sobretudo o jornalismo político, busca atuar como a profetiza dos negócios da burguesia. Em um contexto onde o grande capital age como apostador no pleito eleitoral, os jornalistas políticos agem como seus consultores de apostas, buscando antecipar cenários e apontar quem são, potencialmente, os possíveis vencedores da disputa. Isso explica porque, cerca de um ano antes das eleições o jornalismo político em todas as suas mídias busca desvendar as articulações dos bastidores da política para antecipar qual o cenário eleitoral mais provável. É aqui que entra o que chamo de “síndrome de Cassandra”.

Pegou a referência?

Pois vamos adiante!

Claro que, para as frações da burguesia, é indiferente quem ganha e quem perde, mas a antecipação dos candidatos com maior potencial de vitória representa uma “otimização” no processo de direcionamento dos seus recursos. O dinheiro é mais bem empregado quando se sabe quais os potenciais vencedores.

Contudo, não é apenas como consultores que o jornalismo corporativo influencia no processo eleitoral. Vários grupos de comunicação militaram organicamente nos processos eleitorais. Nos anos 90 o grupo Abril, nunca escondeu seu apoio ao então Presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2014, jornais, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, aumentaram sensivelmente o tom das suas críticas ao governo de Dilma Rousseff (PT), principalmente em relação aos temas relativos à política econômica, como metas de inflação, taxas de juros e superávit primário (os mais sensíveis para o empresariado, sobretudo o mercado financeiro) e aos escândalos de corrupção, cujas repercussões alimentavam a munição da oposição.

Contudo, é a partir do golpe de 2016 o jornalismo político da grande mídi corporativa abandona o tom da crítica (mal) velada torna-se totalmente panfletário, partindo-se para a espetacularização dos escândalos de corrupção – como demonstra a cobertura da condução coercitiva e da posterior prisão do Presidente Lula – no intuito de minar as chances do lulo-petismo no pleito eleitoral de 2018. O resultado foi o rebaixamento do debate político e a abertura do caminho da ascensão da ultradireita, como demonstraram as eleições daquele ano.

Mesmo em 2022 quando grande parte da mídia corporativa voltava a fingir-se de “imparcial” e “objetiva”, posicionando-se claramente em atitude crítica a Bolsonaro, o grupo Jovem Pan junto à rede Brasil Paralelo (sem contar um grande número de influenciadores digitais) militaram ativamente a favor do candidato do PL fazendo uso da veiculação de Fake News.

No entanto, você deve estar se perguntando agora: em que sentido a dinâmica de apostas e a síndrome de Cassandra se relacionam à crise político-institucional que agora estamos vendo?

4. As Eleições de 2026 e a novela “Entre Tapas e Subornos”

  



A pergunta sobre a relação entre a nossa novela das nove e o pleito de 2026 pode ser facilmente respondida quando damos uma olhada na correlação de forças após a crise do bolsonarismo. Com a inelegibilidade e a provável prisão de Bolsonaro, a ultradireita perde o seu principal nome junto ao eleitorado. Cria-se diretamente um vácuo de lideranças que possam, ao mesmo tempo, servir de polo atrativo para as forças conservadoras e que tenha, simultaneamente, forte apelo popular. A lista de candidatos à sucessores do Ex-Presidente, vai desde a sua esposa Michelle Bolsonaro, até nomes de Governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos). Este último talvez seja a figura pública que mais tenha procurado obter a “bênção” do Ex-Presidente. O apoio de Bolsonaro não significa apenas uma declaração política, significa recursos, estrutura, militantes e, acima de tudo, apoio popular. Quem não estaria interessado na máquina eleitoral que o Ex-Presidente montou para si?

Claro que o chefe do clã Bolsonaro não está disposto a passar o cetro. A saída mais óbvia para ele seria a de apoiar o nome de um membro da sua família, certo de que poderia influencia-lo diretamente, mesmo de dentro de uma cela. Não obstante, com os escândalos de corrupção e a desmoralização pública envolvendo seu julgamento, diminuem-se as chances de qualquer membro de sua tribo aparecer como candidato(a) em condições de disputar o pleito eleitoral. O vácuo na liderança política leva a ultradireita a compensar o cenário apostando no desgaste do Governo e aqui entra a mudança de tom do Congresso. Vamos lembrar que a ultradireita hoje praticamente hegemoniza o Congresso, após ter conseguido cooptar para sua disputa contra o Governo o chamado “centrão”.

O lulo-petismo, por seu turno, também vive uma crise de renovação dos seus quadros, fora o atual Presidente, é pouco provável que quadros da liderança do lulo-petismo como o Ministro Fernando Haddad e a Ministra Gleisi Hoffmann, por exemplo, venham a 2026 com grandes chances, mesmo com a chancela de Lula.

Seguindo a cartilha bolsonarista a extrema-direita investe na crise política como forma de desgastar o Governo, enquanto este último, parte para o “tudo ou nada” investindo na deslegitimação social do Congresso. Para a gestão lulo-petista, a disputa sobre o aumento das IOFs não se resume à uma questão orçamentária. Um Governo de “esquerda” que historicamente adotou como fundamento de sua gestão, a política de “conciliação” de classes e de manutenção da política econômica e fiscal neoliberal não arriscaria seu mandato antagonizando diretamente com o Congresso por apenas uma questão fiscal. A atitude do Governo se relaciona às eleições de 2026 por que ele age no sentido de não só retomar os seus índices de popularidade, mas também de repactuar a sua relação com os movimentos populares. Enquanto isso, os consultores da burguesia, em sua “síndrome de Cassandra”, mudam dia a dia suas previsões ao sabor das reviravoltas de cada capítulo da novela entre o Governo e o Congresso. Houve quem considerasse que o “discurso” do “nós contra eles” poderia ser um tiro no pé do próprio Governo, agora, dão como praticamente certa a vitória de Lula tendo em vista o seu crescimento nas pesquisas.

Quanto a nós, abandonamos qualquer tentativa de vaticínio profético porque entendemos que a racionalidade é ainda o melhor instrumento para se fazer política. Para olhar a realidade para além do reino da adivinhação ou da simples opinião ordinária, é preciso observar as coisas como são e fundamentar as análises nos fatos, coisa que anda um pouco distante do jornalismo político hoje em dia. Contudo, se não é possível aqui antecipar os acontecimentos, pode-se, entretanto, antever racionalmente algumas questões que aparecem quando observamos o processo em sua totalidade. Queremos encerrar este texto dividindo com você algumas indagações que perpassam tudo o que observamos nas linhas acima.

A primeira pergunta que salta aos olhos é: até quanto tempo as eleições presidenciais serão um “investimento” tolerável para a burguesia? Claro está que as eleições do sistema presidencialista são por demais caras no Brasil e, no entanto, o avanço da moralização do processo eleitoral não é algo do interesse da burguesia, já que suas frações se beneficiam diretamente do “investimento” nas campanhas. Como reduzir os “custos” das campanhas eleitorais, sem, ao mesmo tempo, abrir mão da influência financeira nas mesmas? Essa é uma questão que provavelmente os setores mais conscientes do capital já devem vir se fazendo a algum tempo.

Qual seria, portanto, a saída? Teríamos uma reforma política à vista?

Durante as três últimas décadas o tema da reforma política sempre veio sendo ensaiado sem nunca ter sido efetivamente colocado na ordem do dia. Seria esse o passo seguinte no avanço da escalada do capital, uma mudança no sistema institucional da república brasileira?

“Tantas perguntas, tantas questões!”

Michael Melo Bocádio

Fortaleza – 10/07/2025.

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